O Canadá tem os recursos. O Japão e a Coreia têm a demanda. A tecnologia Power-to-X pode ser a ponte que os conecta — e posiciona o Canadá como líder em energia limpa na região Indo-Pacífico.
O Canadá tem os recursos. O Japão e a Coreia têm a demanda. A tecnologia Power-to-X pode ser a ponte que os conecta — e posiciona o Canadá como líder em energia limpa na região Indo-Pacífico.
À medida que o mundo acelera em direção à descarbonização, “Poder para X” (PtX) — a conversão de eletricidade renovável em hidrogênio, amônia, metanol ou outros vetores energéticos — está emergindo como um pilar fundamental da transição global para energia limpa. Para o Canadá, um país abençoado com abundantes recursos renováveis, mas que busca novos caminhos para influenciar globalmente a economia de baixo carbono, o PtX representa mais do que uma mudança tecnológica. É uma oportunidade para diplomacia energética — especialmente com o Japão e a Coreia do Sul, duas nações que buscam urgentemente importações limpas e confiáveis para alimentar suas ambições de zero líquido.
Os fundamentos do Canadá o posicionam bem para se tornar uma potência em PtX. Sua vasta área territorial e capacidade renovável — desde energia hidrelétrica em Quebec até eólica em Terra Nova e solar em Alberta — fornecem uma base sólida para a produção de hidrogênio e amônia em larga escala. A Estratégia de Hidrogênio de 2020 do governo federal imaginou o Canadá como um "fornecedor global de hidrogênio limpo", e províncias como Alberta e Terra Nova já anunciaram projetos multibilionários de hidrogênio e amônia visando os mercados asiáticos.
No entanto, vários desafios estruturais persistem. Os preços da eletricidade permanecem desiguais regionalmente; a infraestrutura da rede é frequentemente fragmentada; e os processos regulatórios são lentos. Mais importante ainda, o Canadá carece de uma estrutura nacional coerente que aborde especificamente Poder para X — uma estratégia mais ampla que integre hidrogênio, amônia, combustíveis sintéticos e derivados relacionados sob uma única visão voltada para a exportação. Sem essa estrutura, o Canadá corre o risco de ficar atrás de concorrentes como a Austrália ou os países do Golfo, que estão se mobilizando rapidamente para se posicionarem como exportadores de combustíveis limpos para a Ásia.
Japão e Coreia: os motores de demanda do mercado PtX da Ásia
O Japão e a Coreia do Sul colocaram o hidrogênio limpo e a amônia no centro de suas estratégias energéticas de longo prazo. Estratégia Básica do Hidrogênio pretende estabelecer uma cadeia de fornecimento completa de hidrogênio até 2030, enquanto a Coreia Roteiro da Economia do Hidrogênio visa milhões de veículos movidos a células de combustível e geração de energia a hidrogênio. Ambos os países veem a amônia como um transportador prático de hidrogênio e um combustível de baixo carbono para co-combustão em usinas termelétricas — uma tecnologia já testada por concessionárias japonesas como a JERA.
No entanto, as restrições de recursos e a limitada capacidade doméstica de energia renovável significam que ambos os países dependerão fortemente de importações. O desafio é encontrar parceiros estáveis que possam fornecer produtos certificados de baixo carbono em escala. Austrália, Oriente Médio e agora Canadá despontam como concorrentes importantes. Japão e Coreia trazem tecnologias avançadas — em liquefação, craqueamento de amônia e padrões de segurança — que podem complementar as vantagens de recursos e produção do Canadá, preparando o cenário para uma colaboração sinérgica.
Parcerias emergentes e caminhos para cooperação
Sinais dessa cooperação já estão aparecendo. Em 2024, Terminais Trigon Pacific anunciou planos com parceiros em Ulsan, Coreia do Sul, para exportar amônia de baixo carbono da costa oeste do Canadá. Da mesma forma, Hydrogen Canada Corprevelou um projeto de hidrogênio-amônia azul em escala mundial em Alberta, com produtos destinados à Coreia. Essas iniciativas refletem a lógica do pacto de hidrogênio anterior do Canadá com a Alemanha — combinando recursos canadenses com a demanda externa por meio de acordos estratégicos de aquisição e infraestrutura.
Olhando para o futuro, o Canadá, o Japão e a Coreia poderão desenvolver uma corredor trinacional de combustíveis limpos em todo o Pacífico. Tal estrutura iria além de acordos pontuais, institucionalizando a cooperação por meio de diversos mecanismos:
Tais iniciativas não apenas acelerariam a descarbonização, mas também dariam ao Canadá um papel de destaque na formação da ordem de energia limpa do Indo-Pacífico.
Além do seu potencial comercial, o PtX oferece ao Canadá uma via para projetar poder suave em um mundo descarbonizado. À medida que os exportadores de combustíveis fósseis se reposicionam, a diplomacia energética é cada vez mais definida não por barris e BTUs, mas por elétrons e moléculas. Ao defender uma estrutura PtX transparente, baseada em regras e de baixo carbono, o Canadá pode se posicionar como um "parceiro de energia limpa" confiável — não apenas para a Europa, mas para todo o Indo-Pacífico.
Japão e Coreia, ambos aliados estratégicos e líderes em tecnologia avançada, oferecem parceiros ideais para esse tipo de diplomacia. Uma parceria trilateral estruturada poderia elevar a voz do Canadá na definição de padrões internacionais para hidrogênio e amônia limpos. Também se alinharia perfeitamente à Estratégia Indo-Pacífica mais ampla do Canadá, que enfatiza a resiliência econômica, a segurança da cadeia de suprimentos e a cooperação climática.
No país, essas parcerias poderiam catalisar novos ecossistemas industriais — infraestrutura portuária, fabricação de eletrolisadores, integração de energia renovável e logística de exportação. Em essência, o PtX poderia servir tanto como um instrumento de política externa quanto como uma ferramenta de estratégia industrial, conectando o investimento doméstico em tecnologia limpa com as oportunidades do mercado global.
A corrida global para descarbonizar os sistemas energéticos é também uma corrida para redefinir a influência. Para o Canadá, a janela de oportunidade é agora. Ao forjar parcerias profundas e estruturadas com o Japão e a Coreia, o Canadá pode transformar seu potencial renovável em capital diplomático e crescimento econômico. Power-to-X não se trata apenas de tecnologia; trata-se de construir confiança, mercados e impulso além das fronteiras.
Em uma era em que a segurança energética e as metas climáticas convergem cada vez mais, a diplomacia PtX do Canadá pode se tornar uma de suas exportações mais poderosas.
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